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segunda-feira, 14 de junho de 2010

29 - A linguagem machista nossa de cada dia

O machismo ainda é tão profundo na nossa cultura
que nós o praticamos mesmo até mesmo quando queremos combatê-lo.
Mesmo nas redações contra ele,
homens e mulheres o praticam sem perceberem.

Talvez a maior evidência de machismo na nossa cultura esteja na Bíblia. Há vários textos bíblicos que comprovam isto, mas logo no início, no Gênese, encontra-se a lenda de Adão e Eva - lenda, sim, evidentemente. Tal lenda diz que o primeiro homem, Adão, que foi feito de barro, necessitava de uma parceira. E Deus, que fez Adão, fêz Eva surgir a partir de uma costela do mesmo. Tal lenda tem o objetivo claro de tentar justificar por que a mulher deve ser submissa ao homem: se este não tivesse surgido do barro antes dela, não haveria a costela para que ela surgisse. Portanto as "filhas de Adão" (as mulheres), como forma de gratidão, devem ser sempre servidoras - para não dizer "servas" - e realizadoras de todas as vontades dos "filhos de Adão" (os homens). Uma lenda ridícula e claramente machista. 

"Todo homem nasce livre..." - e as mulheres?

"A Declaração dos Direitos Humanos, pelo menos na versão em português, diz que "todo homem nasce livre...". E a mulher, como fica nessa história? Certamente alguém dirá, "mas quando dizemos 'o homem', estamos na verdade nos referindo ao homem e à mulher". Isto apenas reforça a presença do machismo na linguagem, pois predomina o substantivo masculino. Então poderíamos dizer "Todo ser humano..." - ôpa, desculpem! Eu quis dizer: "Toda a humanidade (substantivo feminino) nasce livre..." Mas, espere aí! Agora prevalece o substantivo feminino. Os direitos não devem ser iguais? Já sei! o melhor mesmo é dizer "Todos nós nascemos livres..." - prevalece o substantivo masculino, mas pelo menos a palavra "nós" inclui todas as pessoas
A predominância masculina nem sempre proposital é muito comum nas redações. Dizem frequentemente que aquelas pinturas antigas encontradas em rochas e cavernas foram feitas por "homens pré históricos". Como podemos saber que as mulheres pré históricas não pintavam? Dizem também que a primeira grande invenção do homem foi a roda, mas quem nos garante que ela não foi pelo menos sugerida por uma mulher?
Nas seções de cartas de revistas e jornais, encontramos títulos como "Espaço do Leitor", "Cartas dos Leitores", "Opinião do Leitor", "O Leitor Pergunta", etc. Não são impedidas as participações das leitoras, mas o título quase sempre se refere aos leitores. Nos livros e nas aulas de história, sempre aprendemos sobre as "conquistas de grandes homens" - claro que sempre houve a participação das mulheres, mas elas raramente são citadas. 
Nos editais de concursos públicos, lê-se: "O candidato deverá apresentar documentos...", "O candidato deverá obter informações...", "O candidato deverá dirigir-se ao...", "Em caso de dúvidas, o candidato deverá...". E a candidata, o que deve fazer? As mesmas coisas que o candidato, é claro, mas no texto a referência predominante é ao sexo masculino, mesmo inconscientemente. Editoras sempre lançam coleções de livros com títulos como "Grandes Poetas" (nunca "Grandes Poetizas"), "Grandes Pensadores" (nunca "Pensadores e Pensadoras" ou "Pensadoras e Pensadores"), "Grandes Inventores" (alguém já ouviu falar de uma inventora, ou pode garantir que nunca houve uma?). Até mesmo algumas mulheres que criam poesias atualmente são chamadas de "poetas" - ou seja, o machismo é tão forte que baniram por conta própria a palavra "poetiza". 

"Atrás dos grandes homens" ou ANTES deles?

Canso-me de ler a famosa frase: "Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher." Quanta hipocrisia! Por que não dizer que grandes homens e grandes mulheres, ou grandes mulheres e grandes homens, estão sempre lado a lado? Se você, mulher, ou você que é homem mas defende os direitos das mulheres, ouvir um homem lhe dizer tal frase, diga-lhe que por trás de tudo que ele conquistou, veio a educação que lhe foi dada pela mãe e pelo pai (só para lembrar: costuma-se dizer "os pais"), e que ela, sendo a mãe, obviamente veio ao mundo ANTES - isto é, À FRENTE - dele.
Não há duvida de que, em sua luta por seus direitos, ao longo dos anos as mulheres obtiveram muitas conquistas. Entretanto, ainda há muito por conquistar, como se pode perceber até na nossa maneira de falar e de escrever - o que é lamentavelmente uma vergonha (substantivo feminino) para os homens.